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O ILUMINISMO E A ARTE: A PINTURA DE GOYA

Por Giulia Beatriz Plassmann (graduanda em História - Unioeste)


Capa do livro de Todorov

De acordo com Todorov, a pintura para Francisco Goya não era mero divertimento: a imagem revela um pensamento por meio do qual apresenta uma reflexão sobre o mundo e os homens. Goya filosofou sobre seu tempo e a expressou por meio de sua arte.

O que percebemos ao apreciar sua obra são as entranhas e o horror daquilo que ele viu e viveu, e acima de tudo, sobre o sentiu: medo, temor, indignação, incompreensão, compaixão. Goya acompanhou boa parte de acontecimentos marcantes da História do século XVIII e do começo do XIX, desde o ambiente intelectual do pensamento Iluminista, do qual era um entusiasta e defensor, até as ações tardias da Inquisição espanhola, que retratou em muitas de seus desenhos, testemunhos de toda insensatez e violência daquela instituição.


Também foi contemporâneo da Revolução Francesa e da ocupação da Espanha pelo exército de Napoleão Bonaparte sobre a qual pintou a famosa série “os desastres da Guerra”.

Nesta série demonstra, com riqueza de detalhes a brutalidade da guerra e sua falta de sentido: tão devastadora ela é, que liberta os monstros mais cruéis que habitam a humanidade e, em meio ao caos, se esquece seu motivo ou fim, resta apenas violência e morte. Mesmo nas pinturas que fazia sob encomenda, ele não deixava de lado suas críticas pessoais ao tempo e sociedade que vivia. Nas figuras da realeza podemos perceber sua ambição e soberba, e ao mesmo tempo, algo de caricatural e grotesco.

Como forma de denúncia às superstições de sua época Goya pintou o obscuro, o pesadelo e o noturno: bruxas, demônios, monstros, seres sinistros do imaginário popular e católico. As bruxas são representadas como velhas, corcunda

Goya pinturas noturnas
El conjuro (1797-1798) - Goya

s, narigudas, em pacto com o demônio, comendo criancinhas e cozinhando pessoas. Fiel ao imaginário popular e cristão da Espanha da época o objetivo dessas obras talvez seja justamente chocar as pessoas que as observam, mostrando o absurdo de se acreditar em tal fantasia macabra, afim de reerguer um ideal já ultrapassado naquele momento de caça às bruxas.


Goya Saturno
Saturno devorando um filho (1819-1923) - Goya


Uma de suas obras mais populares representa Saturno devorando sua cria. “É a sociedade eliminando seus excluídos”, Goya quer demonstrar que a “A prisão é uma máquina de triturar o humano.” Que a sociedade é cruel e que exclui e tritura as pessoas que não se encaixam por algum motivo.

Goya foi um dos mais peculiares artistas de sua época e é isso que o torna tão especial: suas pinturas não se encaixam em nenhum movimento artístico. Utilizava-se de formas e linhas, mas as negava, defendendo que a arte deveria aproximar-se o máximo possível da natureza, ou seja, da luz e sombra. O pintor ainda acreditava que não deveriam existir regras para a pintura. Para Goya o estudo de técnicas de pintura era um verdadeiro obstáculo para um jovem artista, pois o reprimia e o moldava aniquilando sua autonomia e originalidade. Isso talvez tenha a ver com a sua adesão ao pensamento iluminista, cujo ponto de partida é a crítica à autoridade mantida pela tradição, sob todas as suas formas. Os iluministas garantem sua legitimidade a partir da autonomia da observação imparcial do mundo e do raciocínio lógico. Os iluministas, assim como Goya, denunciavam preconceitos, superstições, ignorância contra os quais invocam a ciência e o conhecimento: Pois o sono da razão produz monstros.





Referências Bibliográficas:


TODOROV, Tzvetan. Goya, à sombra das luzes. Companhia das Letras, 2014.


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